Meses antes de partir para uma viagem de trem pela Ásia Central, eu estava totalmente perdida em relação a história da região então comecei a ler o livro "A Carpet Ride to Khiva" de Christopher Aslan Alexander.
O livro conta a história de um jovem universitário inglês ( ele mesmo ) que vai morar no Uzbequistão no fim dos anos 1990 para escrever um guia de viagem. Durante essa jornada, ele tenta resgatar uma arte quase perdida: a tradicional produção de tapetes, desde a tinturaria natural até a tecelagem. E, ao fazer isso, reúne mulheres e pessoas com deficiência como aprendizes, tentando criar um ateliê autossuficiente em um país marcado pela corrupção, pela burocracia sufocante e por uma estrutura social que deixava pouco espaço para vulneráveis.
Enquanto lia, me impressionava profundamente a realidade das mulheres, das crianças e das pessoas com deficiência na região.
O autor é acolhido por uma família uzbeque, e com uma mistura de humor e afeto conta situações, festividades e costumes da vida real desse povo.
Antes de viajar, após ter finalizado o livro, escrevi ao autor.
Para minha surpresa, ele respondeu.
Perguntei se o ateliê ainda existia em Khiva. Ele disse que sim.
Quando finalmente cheguei à cidade, a primeira coisa que fiz foi procurar o ateliê.
E foi emocionante encontrar ali, diante de mim, não apenas um lugar descrito em um livro, mas as próprias pessoas que haviam sido personagens da história, mulheres tingindo lã em caldeirões, tecelãs esticando fios com maestria. A vida seguia, e o ateliê funcionava!
Madrim lavando a seda no livro e nos ajudando a escolher um tapete.
Khiva, por si só, parece uma cidade suspensa no tempo.
Dentro das muralhas tudo parece emoldurado por séculos: minaretes azul-turquesa, portas entalhadas à mão... Crianças correm pelas passagens estreitas, noivos em cortejos, vendedores oferecem tapetes e cerâmicas como se cada objeto carregasse um pedaço da própria cidade.
Caminhar por Khiva depois de ter lido o livro foi como entrar num capítulo que, até então, só existia no imaginário.
Para mim, foi também uma ponte entre página e mundo, entre memória e descoberta.
Antes de embarcar nessa jornada pelos países da Ásia Central, eu quase não havia pesquisado imagens. Queria permitir que tudo me surpreendesse, e talvez por isso o encantamento tenha sido ainda mais forte.
Khiva é linda e delicada. Uma parada perfeita antes de seguir para a majestosa Samarcanda.
Mas essa história, deixo para outro post.
