Nosso Safári

Viajar com crianças para Botswana talvez não seja a primeira escolha de uma família com filhos pequenos.
Não há brinquedos, parques temáticos ou distrações prontas.
No nosso caso, nem sequer havia um hospital próximo ao lodge onde ficaríamos.

Enquanto fazia as malas, pesquisei, separei remédios, imaginei cenários,mas, no fim, coloquei na nécessaire o básico e fechei a mala com um suspiro: nada vai acontecer.

O caminho até o coração da savana

Chegar ao lodge não é simples. Os aviões diminuem de tamanho até que, por fim, embarcamos em um que comportava apenas nossa família e mais um casal.

Uma mão pequena apertava a minha e dizia:
Vai balançar um pouco, mainha, por causa do calor.

Às vezes me pergunto se ele percebe que não é o aperto da mão que me acalma, mas a sua presença ao meu lado.

O coração salta, o avião balança e, lá embaixo, os caminhos dos animais riscando a savana encantam.
Pousamos em uma pista de terra. Poeira, calor e, à nossa espera, apenas a natureza: imensa, imprevisível e viva junto com um sorriso largo do nosso guia.

Acordar cedo e aprender com o tempo

No safári, acordar cedo significa antes do sol nascer e isso muda tudo.

O frio das primeiras horas da manhã revela os animais mais ativos.
Sair tão cedo, sem café da manhã, pode parecer difícil para crianças pequenas, mas o que se aprende é valioso: a natureza ensina sobre o tempo.

Ela não se apressa, ela se desenrola.
Ver um leão ou um rinoceronte não é promessa, é presente.

O valor do inesperado

Diferente de um parque ou zoológico, onde o mapa mostra onde estão os animais, o safári é a beleza do inesperado.

É preciso silêncio, paciência e olhos atentos.
Cada saída guarda uma surpresa, diferente até daquela vivida pelo grupo que partiu cinco minutos depois.

O guia observa rastros, identifica sinais, escuta ao longe a natureza se comunicando… e nós esperamos.
De repente, algo se move, e o “filme” da vida acontece diante dos olhos.

Lições que a natureza ensina

Observar os animais em seu habitat é como assistir a uma aula silenciosa sobre comportamento e equilíbrio.
O olhar atento revela o instinto, a estratégia, a convivência.

Às vezes, o momento é de pura delicadeza, como quando a leoa lambe seus filhotes.
Outras, é de força selvagem, quando o ciclo da vida se cumpre diante de nós.

Viajar para dentro

No fim dessa experiência, entendi que estar imerso na natureza não é uma viagem de distração, e sim de conexão.

Num mundo em que a atenção é ouro, especialmente na infância, ver meus filhos atentos aos sons da savana, às conversas com os guias e aos horários ditados pelo sol foi algo transformador.

Talvez o mais bonito de viajar com eles seja realmente isso: nutrir o olhar curioso.

Aquele que aprende a enxergar os sinais da natureza, que se encanta com cada descoberta e que brilha ao reconhecer, entre tantos antílopes da savana, a diferença entre um impala e um kudu.