Em 2013, depois de dois meses em Londres estudando Design de Joias no GIA, embarquei para o Irã via Baku,  um destino que eu só conhecia pela narrativa de uma amiga da faculdade e pelo sabor das frutas secas que ela trazia para Milão quando voltava das férias em casa.

Ainda na sala de embarque, comecei a perceber o ritmo do país antes mesmo de chegar a ele. As mulheres ajustavam seus lenços com naturalidade e, ao nos aproximarmos do avião da Iran Air, todas, estrangeiras e iranianas, cobriram a cabeça.

Um gesto simples, mas simbólico, que indicava que estávamos entrando em outro mundo, com outras regras.

Confesso: senti medo.

Não por estranhar o que era deles, mas por reconhecer, em mim, o quanto a liberdade de vestir faz parte da minha história.

Percebi que estar ali significava conviver, por alguns dias, com normas que não cresceram comigo e isso me trouxe a uma reflexão sobre os limites entre tradição, religião e escolha individual.

Teerã: um retorno no tempo

Ao chegar em Teerã, a impressão foi imediata: parecia que havíamos voltado uns 30 anos no tempo.

O celular não funcionava, mas o Blackberry sim, e, segundo a recepcionista do hotel, bastava colocar um VPN que “irá funcionar também”.

Os carros nas ruas, o estilo dos hotéis, as fachadas empoeiradas… tudo parecia parado no tempo.

Dentro do cofre: o Tesouro do Banco Central

Visitamos o Museu das Joias do Banco Central, um dos acervos mais impressionantes que já vi. Instalado dentro do cofre de um banco, abriga uma coleção de joias simplesmente inimaginável.

Não era permitido fotografar e tampouco havia catálogos à venda, uma frustração para qualquer apaixonada por joias.

Entre tantas peças, uma me marcou profundamente: o Darya-i-Nur, o “Mar de Luz”.

De um raro tom rosa clarinho, ele é um dos maiores diamantes lapidados do mundo e a gema mais célebre da Coroa Persa.

Acredita-se que tenha origem nas minas de Golconda, na Índia, no século XVII, as mesmas que deram origem a alguns dos diamantes mais famosos da história.

Ao longo dos séculos, passou por imperadores e xás, tornando-se símbolo de poder e continuidade das dinastias persas.

Hoje, permanece como peça central do Tesouro Nacional do Irã, guardado sob máxima segurança.

De Teerã, seguimos para Isfahan, onde visitamos uma das praças mais lindas do mundo. 

Os azulejos que desenham padrões infinitos criam a sensação de caminhar dentro de uma obra de arte.

Visitamos Persépolis, antiga cidade Persa e,  em Shiraz, reencontrei minha amiga da faculdade e ela nos mostrou um pouco da vida na cidade.

Fomos juntas a um restaurante mais moderninho, onde o lenço das meninas cobria apenas o rabo de cavalo, e não toda a cabeça.

Um gesto que carregava o símbolo silencioso de liberdade.

A conta do restaurante era toda em persa e nem os números conseguíamos entender.

Conversamos sobre a vida no Irã, sobre os motivos que a tinham feito voltar depois de tantos anos vivendo entre a Itália e os Estados Unidos. 

Com ela visitamos mercados, escolhemos tapetes e conhecemos um pouco do cotidiano dos jovens. 

O Irã é autêntico, tem uma arquitetura exuberante, um povo acolhedor e caloroso.

É impossível visitar o Irã e não refletir sobre o impacto da religião e da política  e sobre como essas escolhas moldam profundamente uma sociedade.

É um país ao qual tenho vontade de retornar, pois, apesar da obrigatoriedade de me cobrir, em nenhum momento me senti observada no sentido de ser analisada de cima a baixo por ser mulher ou estrangeira. Pelo contrário, senti curiosidade genuína sobre quem éramos e o que estávamos visitando, e uma alegria discreta por ver turistas descobrindo seu país.