Enquanto leio o livro Jewels That Made History, inevitavelmente volto aos meus dias no Victoria & Albert Museum, em Londres. Lembro de chegar cedo, caminhar sozinha pelas galerias e esperar, do lado esquerdo da entrada, a aproximação de uma das guias voluntárias. Em determinados horários, elas reuniam um pequeno grupo de visitantes e escolhiam algumas peças importantes para explicar com riqueza de detalhes suas histórias.

Sempre pedia, em pensamento, que uma das peças escolhidas estivesse na galeria de joias. E, algumas vezes, tive a sorte de ouvir, ali mesmo, histórias que jamais descobriria se estivesse percorrendo o museu por conta própria. Durante os dois meses em que morei em Londres, essa rotina se tornou um dos meus programas favoritos.

Cada capítulo do livro parece estar sendo narrado por uma guia que oferece explicações curtas, mas ricas, que ampliam nosso entendimento sobre a humanidade através de seus adornos.

Neste segundo post dedicado ao Jewels That Made History, seguimos para o ano de 1292 a.C., quando três pedras cruzavam desertos e moldavam simbolismos no Egito Antigo.

O peitoral encontrado no túmulo de Tutancâmon é um mapa silencioso das rotas comerciais, das crenças e do poder simbólico daquele período. Entre seus detalhes, três gemas se destacam. Lápis-lazúli, Turquesa e Cornalina carregam histórias que atravessaram montanhas, civilizações e o imaginário de um povo.

O lápis-lazúli, talvez a mais emblemática delas, viajava desde Badakhshan, no atual Afeganistão, a única fonte relevante dessa pedra no século XIII a.C. Por quase seis mil anos, caravanas atravessaram vales nevados, desertos da Mesopotâmia e rios navegáveis até chegar ao Egito. O azul profundo era a cor do divino, da proteção e do renascimento. Acreditava-se que guardava o brilho do céu noturno e, por isso, pertencia a faraós, sacerdotes e deuses. No peitoral de Tutancâmon, significava eternidade.

A turquesa com seu tom azul-esverdeado simbolizava a renovação da vida e costumava acompanhar os mortos como amuleto de proteção na travessia para o além. Por isso aparece com tanta força nas joias funerárias da realeza.

A cornalina, extraída do Deserto Oriental e também presente nas rotas da Núbia e do Vale do Indo, era lapidada há milhares de anos. Sua cor laranja-avermelhada representava vitalidade, coragem e energia solar. Para os egípcios, carregava o calor protetor do deus Rá e fortalecia o espírito do morto em sua jornada.

Quando vemos essas três pedras reunidas no peitoral de Tutancâmon, compreendemos que ali existe mais que estética. Ali repousam rotas comerciais complexas, relações diplomáticas entre reinos distantes, crenças profundas sobre vida e morte e escolhas artísticas carregadas de significado.

A joia de um faraó era também um mapa do mundo conhecido.

Não é uma delícia viajar por essas histórias enquanto viajamos pelo mundo?
O Victoria & Albert Museum sempre foi um dos meus favoritos, pela riqueza da coleção e pela forma como cada exposição é cuidadosamente construída.

E você, qual lugar ou museu você sempre gosta de revisitar?