A prática que me ensinou a respirar

 

Comecei a praticar yoga há cerca de oito anos, sem saber exatamente onde aquilo me levaria. Tinha feito algumas aulas durante as férias da faculdade e lembro de achar curioso aquele momento final: deitada no tapetinho, sentindo um relaxamento tão profundo que parecia um “reset” completo.

Anos depois, essa memória voltou com força. Busquei a prática com o desejo de reencontrar aquela sensação — de silêncio, de desaceleração.

A Pressa dos Dias e a Busca por um Espaço Meu

Na época, meus dias começavam como uma corrida. Acordava já com a sensação de estar atrasada em relação ao mundo. Trabalhava com fornecedores em fusos diferentes do meu, levava meu filho à escola, passava pela academia (incomodada com a música alta), voltava para casa, tentava me concentrar… e quando via, já era hora de buscá-lo de novo. O ponteiro do relógio era um adversário diário.

Foi nesse ritmo que resolvi procurar uma professora que viesse até minha casa. Combinei com ela que as práticas aconteceriam antes de tudo: antes da casa acordar, antes do mundo agitar.

Lembro de descer as escadas ainda no escuro, meio dormindo, meio acordada — e esperá-la na biblioteca. Ela entrava em silêncio. Nossos encontros pareciam encontros secretos antes do amanhecer.

Pequenos Começos

Fui clara no nossa primeira prática: não queria acrobacias nem ficar de cabeça para baixo. Aos poucos, com leveza e constância, fui sendo conduzida.

O Shavasana, aquele relaxamento final que eu tanto buscava, passou a ser o maior desafio. Mesmo com mantas e almofadas, a mente teimava em correr. Lembro de perguntar, meio impaciente: por que esse Shavasana demora tanto?

Mas o tempo — e o yoga — são bons professores. Com o passar dos meses, fui percebendo pequenas mudanças. A mente às vezes mais calma. O corpo mais desperto. O olhar mais consciente.

“Havia espaço para mais escuta. Para mim.”

Fiquei muitos anos no Hatha Yoga, até que em uma viagem a Nova Iorque experimentei uma aula de Hot Vinyasa. Foi intensa, escaldante… e desastrosa. Saí exausta e com a certeza de que aquilo não era para mim.

Quando minha rotina mudou e minha professora ficou com muitos alunos, passei a praticar sozinha. Tentei estúdios, mas não me adaptei. Yoga, para mim, é silêncio, trânsito para chegar e voltar fazia a prática perder seu sentido.

Em outro momento, numas férias, conheci uma instrutora na cidade onde estava. E, para minha surpresa, ao voltar para casa, seguimos juntas — online. Foi com ela que conheci o Ashtanga Yoga.

A prática fixa e repetitiva do Ashtanga me deu algo inesperado: liberdade. No meu ritmo, sem comandos, apenas com o som da respiração, eu me encontrei.

Vieram dores — físicas e emocionais — mas também alívios profundos. A asma passou a me visitar com menos frequência. A dor deixou de ser inimiga e virou guia.

“Comecei a escutar o que o corpo queria dizer.”

Muita gente acha que quem pratica yoga está sempre calmo, sereno, “iluminado”. Não é verdade. Eu tenho meus medos e minhas inseguranças. A diferença é que hoje sei reconhecê-los. Sei quando algo não vai bem. E isso mudou muito para mim.

O yoga me ensinou sobre presença. E presença, hoje, é um dos bens mais preciosos que posso cultivar.

O Ashtanga continua comigo — às vezes dói, às vezes a respiração não encaixa, mas segue. E segue evoluindo junto comigo, no meu ritmo. Yoga, para mim, nunca foi sobre conquistar posturas. Foi sempre sobre voltar. Voltar ao agora. Voltar a mim. 

Você também sente que a vida anda cheia de distrações? Que os instantes escapam sem que a gente perceba?